quarta-feira, 25 de março de 2009

Enfiando minha cabeça no rádio - Parte I


Eu fui num show do Radiohead. Talvez não tenha melhor - e essa palavra aqui abrange seu mais extenso sentido - expressão pra começar esse texto que pretende relatar um pouco dessa que foi uma das mais significativas experiências estético-musicais que já vivenciei.

Como todo mundo aqui deve saber, eles vieram pela primeira vez ao Brasil. Shows em São Paulo e no Rio. Fui pra esse último. O Rio é o último a que me refiro aqui no texto, mas cronologicamente foi o privilegiado primeiro lugar a receber os venerados ingleses. O show se deu na Praça da Apoteose, o famoso sambódromo onde as escolas de samba cariocas desfilam bundas lindas e glamour anualmente (sem trocadilhos). Há um bom tempo, fiquei sabendo desse show, e assim que soube, fiquei muito tentado a ir. Viajar pra outro estado e esse estado sendo o Rio de Janeiro é que era o problema. Não por preocupações de cunho social causadas pela mídia sensacionalista brasileira, longe disso, os impecílios eram os custos de passagens e a estadia. Ganho um pouco mais de um salário mínimo onde trabalho e tinha um monte de dívidas pendentes em cartões de crédito. Coisa de pobre que não pode meter dois conto no bolso que já se endivida. Meus pais não tinham condições suficientes pra bancar uma viagem dessas por completo. Eis meu dilema. Enfim, tinha que dar um jeito: separei uma grana, tratei de comprar logo meu ingresso de meia-entrada, arrumei uma pessoa pra ir comigo, e aí então, só me preocupei em saber como iria e onde ficaria. Eu tenho uma tia que mora no Rio, em Copacabana, mais precisamente. Só a vi uma única vez na minha vida, e isso aconteceu quando ela veio aqui pra Aracaju nos visitar há sei lá quantos anos. Pronto, este foi meu primeiro e último contato com ela até então. Radiohead tocando no Rio e uma tia que mora no Rio... bingo! Perfeito (mas não é o simpático Rafael Baiano desta vez)! Já tinha achado um canto pra me aconchegar por lá. E bem, isso significava, além de uma suposta segurança, economia de grana pra gastar lá também, né? Teoricamente, tudo resolvido, tudo no seu lugar. Falei então com minha mãe pra que ela falasse com a minha tia e a comunicasse da minha ida. Ressaltei que havia um amigo que iria comigo. Minha tia não tem filhos, e segundo minha mãe mora numa casa grande, só com seu marido, um cidadão que mais parece o inestimável Agostinho de A Grande Família - sim, o seriado da rede Globo - , com aquelas roupas de bicheiro e colares de prata. Da vez que ele esteve aqui, não o achei engraçado como a personagem interpretado pelo Pedro Cardoso, mas tudo bem, eu o suportaria. Minha mãe relutou um pouco em aceitar essa viagem (aaaah, mães! Todas elas, genéticas ou adotadas na rua!), mas findou aceitando.

Com uma promoção da TAM em vista e a certeza da hospedagem familiar no estado em que o Radiohead tocaria, segui minha vida planejando, acertando detalhes, e esperando os meses passarem até que o dia da viagem chegasse. E o dia chegou. Mas antes, dois dias antes, foi quando minha querida mamãe resolveu pegar o telefone e ligar pra minha tia. Isso, DOIS DIAS antes da viagem marcada na última quinta-feira, minha progenitora me faz esse favor. Eu já tinha pedido a ela pra fazer isso há séculos, mas, mais uma vez nesta vida, ela não me ouviu. Pois é, aconteceu isso que vocês tão pensando mesmo: minha tia, que descobri tardiamente que é uma medrosa e frustrada de marca maior e que mora na "cidade maravilha" por puro status, vegetando vida, mal saindo de casa, com pavor de que a violenta Rio de Janeiro roube seus pertences valiosos (quanta mediocridade, meu deus-que-eu-não-sei-se-acredito. Minha mãe disse que ela raramente sai com seu carro de casa, com medo da bandidagem!), me deixou na mão (calma, eu não iria comê-la) e disse que viajaria na sexta, não podendo assim me receber em seu suposto belo lar. Legal, né? Raiva foi um sentimento que eu não senti, imaginem. Desespero também não, cês acham? Enfim, discuti com mama e depois fui pôr minha cabeça no lugar pra pensar no que fazer. Tentei ajuda com uma amiga minha que é de lá mas que tá aqui. Não consegui muita coisa, ela morava em Campos lá no Rio, não tinha conhecidos de confiança na capital. Fui na internet atrás de albergues, pousadas, motéis, qualquer coisa que me custasse pouco dinheiro e que ao mesmo me proporcionasse possíveis oportunidades de prazer além do show. Depois de muita pesquisa, Pedro Yuri, o amigo que me acompanhou na viagem, lembrou da sugestão de seu pai, sobre um hotel meia-boca que fica na Lapa, e que estava no mesmo valor da maioria dos lugares que a gente tinha pesquisado. Fechou. Hotel Carioca, se chama. Com tudo decidido, de certeza, agora, saímos daqui por volta de 4 da tarde da quinta-feira à caminho do Rio, à caminho do Radiohead!

http://gomorra69.blogspot.com/2009/03/saga-radioheadiana-de-um-gomorrense-no.html
(nesse link tem esse mesmo texto, apenas com o adendo dos comentários (quase) sempre motivadores de Wesley)

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