
Sexta-feira, dia do show. O café da manhã por conta do hotel tinha seu prazo até às 10 da manhã. O celular programado tocou às 9. Acordamos e fomos prontos pra comer o máximo que pudéssemos, a fim de não termos fome por um bom tempo e assim pouparmos grana. Acho que conseguimos. Depois, saímos pra dar uma volta pelo bairro, fomos numa dessas feirinhas que vendem de tudo, e eu estava atrás de uma camisa que não tivesse estampas, de cor branca, pra poder escrever em letras garrafais: "CABEÇA DE RÁDIO". Era assim que eu queria ir ao show. Comprei uma camisa e depois de comprar um pote de tinta pra tecidos que eu não sabia que demoraria 72 horas pra secar, peguei uma caneta e improvisei daquele jeito mesmo. Fiz "CABÊÇA DI RÁDJU" por influência de Pedro. Ficou bonito, eu achei. Meio pop art. Talvez o Andy Warhol gostasse, haha. Os portões da Praça da Apoteose estavam previstos pra abrir às 4 da tarde, que foi a hora que chegamos por lá. Uma fila enorme, formada em sua maioria por pimbas de todo tipo - a gente até tirava onda dizendo que tava no ENAPIM (Encontro Nacional dos Pimbas) - , supostos fãs do Radiohead, Los Hermanos ou Kraftwerk. Um cambista-de-lugares-em-filas tentou nos vender uma posição privilegiada. 15 reais por cabeça. Não, obrigado, fomos pro final mesmo. A fila quase arrodeava o quarteirão, mas a gente foi. Ao nosso lado, vejam só que coincidência, conhecemos um casal aracajuano. Conversamos um pouco, moram na Atalaia, se não me falha a memória, coisa que ela faz com certa frequência. Pouco depois, chegou o pessoal de Fortaleza que conhecemos na última noite. Ficamos conversando, bebendo umas cervejas, até a hora em que finalmente que abriram os portões, às 5 da tarde, mais ou menos. Foi uma loucura! Foi bonito também. Gente correndo, se batendo, caindo. Todos queriam uma posição digna diante do palco. E a gente no meio da loucura, é claro. Nesse momento, pude perceber o quão doloroso é ser sedentário nessas horas. Preciso voltar a fazer alguns exercícios físicos. Mas o esforço valeu a pena, conseguimos ficar a uns
Conhecemos mais algumas pessoas por lá, tanto de outros estados, como do próprio Rio, e quando a gente falava que tinha vindo de Aracaju, Sergipe, a reação era uniforme: espanto! Todos se espantavam com o fato de a gente ter saído de tão longe só pra ver o Radiohead. Com tanta gente diferente, sugeri a Pedro que tentasse vender alguns EPs recém-lançados de sua banda, a Elisa, mas acabou só distribuindo mesmo. A propósito, se não conhecem, conheçam, eu recomendo. Eles tem myspace, é esse: www.myspace.com/bandaelisabr. Considero música bonita sem ser melosa. Mas bem, após uma longa espera, ao som de um DJ que eu não conheçia, começa o show de abertura do evento e também da volta dos Los Hermanos. Não sou o maior fã deles, mas os acho muito competentes e talentosos, e sinto que têm feeling (característica importantíssima pra mim) quando tocam. Porém, não foi isso que eu senti ao vê-los dessa vez. Achei tudo meio fadigado, sem vontade, sem sal. A galera pareceu ter gostado, pelo menos a maioria, mas percebi que alguns sentiram o mesmo que eu, ou seja, não sentiram. Em seguida, mas não tão em seguida assim, tive a oportunidade de ver um dos shows mais estranhos e ao mesmo fascinantes que já vi: Kraftwerk. Alemães que são considerados pioneiros quando se trata de música eletrônica, começando lá pelos anos 70 (!), programando musiquinhas
A tão aguardada, tão ansiada, tão suada apresentação da maior banda de música alternativa dos anos 90 pra cá, quiçá de todos os tempos. Depois de tanto protelarem pra entrar no palco, o Radiohead iniciou o show. Meu deus-que-não-sei-se-acredito, caralho! Tudo, absolutamente tudo que foi de problema que eu tinha em minha cabeça se evaporou de uma forma única. Eu não conseguia ver mais nada, só aquelas luzes ofuscantes que entravam por meus olhos e numa sintonia peculiar com a música que adentrava meus ouvidos, me levavam a um estágio de puro transe. Eu ora parava e ficava olhando, estático, a cada um deles, ora enlouquecia, e começava a me debater, dançando freneticamente de olhos fechados. Era lindo demais, puta que pariu. Cada trago que eu dava em cigarros "compartilhados" com outros fumantes da platéia, entravam pela minha garganta e saíam pela minha boca embalados pelas batidas fortes da música do Radiohead. Thom Yorke tem uma presença de palco surpreendente, vibrante, mas era o Jonny Greenwood que me chamava mais a atenção, tanto pelas performances quanto pelo estilo de tocar mesmo. Desde sempre, inclusive. O ápice de minha admiração por ele se deu no dado momento em que ele conseguiu a façanha de tocar sua guitarra e ao mesmo tempo tocar teclado com a mão da guitarra! Foda. O show foi passando, eles foram mesclando clássicos com músicas menos conhecidas, mas não menos conhecidas para fãs de verdade... Paranoid Android, Everything In Its
Creep. Foi com ela que eles terminaram o show. Perfeito. Quase 30 mil pessoas (foi o que eu soube) em coro cantaram verso a verso a música que mostrou o Radiohead pro mundo e que foi a primeira deles que me deparei também. Antes mesmo da famigerada "música do Carlinhos", a bela Fake Plastic Trees, que eles não tocaram no show.
Tenho quase certeza que não vou presenciar um momento tão bonito como aquele tão cedo na minha vida. Foi lindo. Valeu muito a pena. Toda a viagem, na verdade.
É, escrevi demais, mas agora, fudeu. Culpem Leno, a ideia foi dele.
http://gomorra69.blogspot.com/2009/03/saga-radioheadiana-de-um-gomorrense-no_26.html
(nesse link tem esse mesmo texto, apenas com o adendo dos comentários (quase) sempre motivadores de Wesley)
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